quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Depois do forró universitário e do pagode universitário...


É. Há algo de podre no reino das universidades. Depois do "forró universitário" e do "pagode universitário" (termos que sempre me soaram meio como "pobres, negros, mestiços, nordestinos e tudo mais, isso não é pra vocês"), eis que dá as caras o fascismo universitário.

Falo do caso da aluna de uma universidade privada que foi agredida porque resolveu ir à aula com um vestido curto. Há algum tempo atrás, outra universitária foi agredida porque circulou o boato de que ela havia ficado com dois rapazes ao mesmo tempo.

E para os que acham que isso só acontece aqui, numa cidade dos Estados Unidos, uma garota de 15 anos foi violentada por vários rapazes no meio de um parque. E a agressão foi testemunhada por várias outras pessoas, que não fizeram mais do que assistir a tudo e virar as costas quando a coisa terminou.

Para mim, isso é mais que falso moralismo, nos casos ocorridos aqui, e mais que violência de jovens sem limites, nos casos de lá. Para mim, isso é fascismo. Se houvesse fascimo pequeno, esses seriam exemplos de pequenos fascismos de cada dia.

Vão me chamar de teórico da conspiração, mas eu vejo clara conexão entre a dinâmica desses fatos e o formato de programas que têm pipocado na TV. Ora são programas baseados em pseudo-entrevistas bem humoradas que, de fato, funcionam apenas como humilhação, pressão, ridicularização e agressões psicológicas ao entrevistado que, seja anônimo, artista ou político, não consegue se defender. Ora são programas no formato "concurso de talentos", onde os candidatos, tenham talento ou não, são espinafrados publicamente por jurados de competência duvidosa. Nos dois casos, a coisa toda é carregada de uma violência simbólica, social e amplamente aceita pelos entrevistadores, jurados, entrevistados, candidatos e telespectadores.

Não defendo aqui os humilhados que participam desses programas voluntariamente. Também não defendo os que, pegos de surpresa, reagem com um sorriso amarelado ou soltando impropérios e golpes que só trazem a eles mais assédio. Não imputem a mim o maniqueísmo alheio.

O que eu defendo é que, no fundo, há uma cultura fascista cotidiana sendo gestada nesses programas aparentemente contestadores e ousados. O que eu afirmo é que há uma cultura totalitária ou autoritária sendo aos poucos construída e reforçada. O fato disso acontecer homeopaticamente afasta a preocupação da maioria das pessoas, que respondem com frases do tipo: "Ah! É só humor!", ou "Você é a favor da censura?", ou ainda "Vai me dizer que eles não merecem a gozação?". E assim vamos achando normal e bem humorada a humilhação, o assédio psicológico, a violência física ou mental, a desqualificação total do interlocutor, o sentimento de vingança e por aí vai.
E o fato disso acontecer homeopaticamente é o que mais me deixa preocupado. Porque questionar essa babaquice toda soa como absurdo, maluquice, exagero, mau humor etc. E quem questiona ou é desqualificado ou agredido... No melhor (pior) estilo totalitário.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Uma mais histórica.


Tenho a impressão de que muitas das classificações, distinções e oposições, criadas e ultilizadas do Iluminismo até a Guerra Fria, já não fazem mais sentido. Sobretudo aquelas que se referem à política e à sexualidade.


Se isso é bom ou ruim? Não sei. Desconfio que até os conceitos de Bem e Mal já não sirvam mais pra nada.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Bem Estar x Estar Livre?


Um carro popular ano 2003 (que já vendi para me forçar a usar o transporte coletivo), luvas e capacete de boxe, um computador, uma multifuncional, um tablet e material de arte (todos usados para trabalhar), alguns cds e livros, uma bateria já surrada e uma pilha de roupas. Fora isso, não tenho qualquer bem material de relevância. Nada que tenha qualquer valor de troca.

Em se tratando de bens culturais (e eu odeio essa expressão), só tenho mesmo algum conhecimento de Ciências Humanas e algum conhecimento artístico, os quais utilizo pra fazer algum.

Esse foi o quadro que notei na minha última declaração de imposto de renda. E a sensação que isso me deu foi, estranhamente, de liberdade. Não sei bem o que isso quer dizer de fato, mas meu bem estar não depende de quinquilharias e bugigangas, independentemente do tamanho e da modernidade.
Meu estar bem depende, sim, das idéias e sentimentos que expresso e das relações que estabeleço. Liberdade não é potência ou direito individual que, frente a outros indivíduos, deve ser limitado. Liberdade é relação em si entre indivíduos e, nesse sentido, é sempre coletiva e individual.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Eleições + Transporte + Urbanização.


Sobre a questão dos transportes nas grandes cidades, principalmente em São Paulo, acho que já vi e ouvi de tudo na grande mídia e nas bocas e cartilhas dos partidos. Um milhão de soluções. Todas temporárias. Todas a nascer já ultrapassadas pelo crescimento da população humana e automobilística. Nenhuma delas pretende destruir a idéia estapafúrdia de automóvel de passeio. Nenhuma delas pretende colocar em risco, de maneira concreta, a dinâmica que centraliza empregos e serviços nas megalópoles.
Propostas nesse sentido eu só ouvi de um punhado de estudiosos sem fama, num programa sem audiência, num horário sem sono. Os "malucos" informaram que, todos os dias, algo em torno de 3,5 milhões de habitantes cruzam São Paulo de Leste a Oeste. Todos os dias. Um Uruguai inteiro. Eu não duvido. Eu acho provável. Eu acho deplorável.
Algumas toneladas e diversos metros cúbicos de volume para transportar, por centenas de quilômetros e por horas intermináveis, alguns seres vivos de algumas dezenas de quilos, pouco volume e que, se pudessem escolher, passariam mais tempo em casa e no bairro.
O que eu proponho? Descentralização da economia (em todos os sentidos) e redefinição da idéia de bem estar, no sentido desta não mais se confundir com consumo e acúmulo de bens e serviços.