O golpe resultou de uma oposição, até aqui irredutível, entre o legislativo federal hondurenho, sob domínio conservador e com apoio da cúpula militar, e o executivo federal, sob chefia de Zelaya, conectando-se diretamente às camadas populares e procurando dirigi-las da maneira oportunista que caracteriza todos os populismos, sejam de esquerda, sejam de direita.
Consumado o golpe, Zelaya soube virar a mesa, não apenas mantendo a questão em discussão nos fóruns internacionais mais regionais, como a OEA, mas levando-a ao Conselho de Segurança da ONU e envolvendo a diplomacia brasileira e estadunidense no embrólio. Ou seja, soube adicionar força à sua posição política que tendia ao enfraquecimento.
O governo do Brasil, alegando ter sido pego de surpresa, tira proveitos da situação, ampliando sua esfera de influência regional para a América Central.
O governo de Obama aproveitará a crise para livrar-se dos quadros diplomáticos que herdou do governo Bush, além de reforçar a imagem de renovação que procura passar sempre que possível. Por fim, cria uma dinâmica de dividir com o Brasil a responsabilidade e o ônus de policiar os rumos políticos da América Latina, num momento em que quer manter seus esforços direcionados para áreas do globo mais importantes em sua estratégia, como o Oriente Médio.
Mas se sairmos do maniqueísmo fácil das oposições entre golpistas e populistas, a verdade é que nenhum dos lados envolvidos quer ver populações autônomas no que se refere à elaboração e conquista de suas próprias reivindicações, atuando independentemente das negociações democráticas, diplomáticas e das instituições e poderes estatais, golpistas ou não.